Meu Diário
03/08/2010 18h40
Noitinha
Estou aqui, pensando. Olho pela janela de vidro de minha sala e vejo a fábrica a se descortinar à minha frente. Vejo o movimento dos operários. Vejo as pequenas plantas no batente da janela. Vejo o motorista que pega a vassoura e varre o chão da fábrica.
Você deve estar pensando – enquanto todos trabalham, ela está em lazer escrevendo? Negativo! Estou pensando. Sou paga pra pensar. E isto eu sei fazer. Faço bem! Entre outras coisas, mas pensar talvez seja o que faço de melhor.
O Plástico bolha é cortado longitudinalmente p`ra encobrir a máquina que está de partida. A chinesa me chama no skype – quer saber se já pode embarcar as peças.
 
Comecei a escrever este texto há dois meses. Tantas coisas aconteceram neste curto espaço de tempo. Agora são 18:35 e pelo vidro da janela não consigo ver a fábrica. Está às escuras. Todos já foram para casa e aqui continuo, “escrava que sou do trabalho” – escrevi isto há 5 (cinco) anos. E continuo escrava. Meus pensamentos agora são outros. O amor permanece o mesmo. Imutável. Pela mesma pessoal, mas com suavidade. Já não dói. Mas lá está. E lá ficará como eu sempre soube. Lá ficará para sempre. Quem sabe um dia os caminhos sejam retomados. Não sei mais nada. Não há dor, não há tristeza, simplesmente a certeza que para mim, amor não poderia ser por tabela, tinha que ser por inteiro.
 
Mas voltando à minha janela escura. Lá estão os vidros, agora espelhados pelo escuro da fábrica. Só me restam 30 dias. E depois não verei mais estes vidros, estas pessoas. Irei para outro lugar, outra paisagem, outra forma de pensar.
 
Tudo na vida é um eterno renovar.

Publicado por Fátima Batista em 03/08/2010 às 18h40
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31/07/2010 09h56
Enganos
Escrevi o texto abaixo em janeiro de 2007. Naquela época, achava que tudo se resolveria rapidamente. Sabia que seria um processo por demais dolorido - só não sabia o quanto -, mas pensava que tudo se resolveria.

Ledo engano. É lógico que tudo se resolve, porém, o tempo, cruel, as vezes se arrasta.

"

Reflexos
 
Todo ato tem seu reflexo. Se você chutar uma pedra, e ela não for muito pesada, irá rolar. Mas se ela for pesada, você pode até quebrar o pé. Isto é um reflexo.
 
2006 foi um ano de chutar pedras. Este ano pode ser ou não o ano dos reflexos – dos pés quebrados. Hoje ocorreu o primeiro pé quebrado – a primeira perda.
 
Se em 2006 houve muitos danos, em 2007 virão as perdas. Tudo isto é reflexo do que foi 2006. 2007 será um ano de consertos. Um ano de gesso. Engessar todos os pés quebrados oriundos das pedras chutadas em 2006.
 
Crê-se que em 2007 não haja perdas. Somente consertos.  Os consertos, por vezes, podem ser doloridos. Mas há o conhecimento prévio de que se uma coisa está sendo consertada, em dado momento parará de doer.
 
Ótimo! Então, é só ter paciência, esperar cada pé quebrado que acontecer como reflexo dos chutes em 2006, colocar o gesso, sentar e esperar a dor ir embora.
 
Esperar que não haja nenhuma fratura exposta – ah, ai já é demais. Depois de todos os chutes, e de toda intensidade de cada chute, não haver fratura exposta, será milagre. Bom, é sentar e esperar.
 
Já basta a certeza de que não haverão pedras pra serem chutadas – isto já é um começo. E preparar tudo para que quando chegar à fratura exposta, a perda não seja tão grande.
 
Mas hoje foi um dia de perda – a primeira delas. Reflexo de 2006. Na verdade não somente de 2006, mas de 2005 também. Doeu! Doeu profundamente. Mas o gesso está colocado no pé, a muleta está na mão, e o negócio é caminhar mancando, mas caminhar, olhando sempre na luz lá no fim do túnel.
 
O engraçado é que você só percebe que dói quando quebra – nunca na hora do chute. Você pode saber que os reflexos virão, e estar preparado para eles, mas o primeiro será sempre mais difícil. É o impacto. Tenho certeza que os outros virão, na velocidade da luz, mas talvez sejam recebidos com menos intensidade, porque o primeiro já terá passado.
 
Perdas e danos. Primeiro, vêm os danos, depois as perdas. E depois das perdas, virá o caminho e, então tudo ficará certo novamente. Esperemos então, com os pés bem fincados no chão, estoicamente, as perdas que virão em 2007, reflexos dos danos de 2005 e 2006.
 

Publicado por Fátima Batista em 31/07/2010 às 09h56
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17/01/2009 10h13
Vida

Fico sempre muito tempo sem escrever no meu diário.


Não por falta do que dizer, mas por falta de tempo.


Estou debaixo da linha somente esperando o tiro de partida. E esta demora, esta expectativa me deixa ansiosa.


 


Sempre soube como seria o amanhã. Hoje não sei mais. Estou meio acéfala. E meio sem pés, sem mãos. Sem pensamentos.


 


Estou esperando pra saber o que a vida reservou para mim. Preferia viver outra história – neste momento, sim – preferia viver outra história, mas eu mesma escrevi minha história, e no meio desta história tem muitas coisas que precisam ser apagadas. Não somente apagadas, mas completamente esquecidas como se nunca tivessem sido vividas.


 


Estou tentando reescrevê-la.


Publicado por Fátima Batista em 17/01/2009 às 10h13
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22/10/2008 18h26
Cansaço

Ah, esta hora que não passa!


Hoje estou por deveras cansada. Ontem trabalhei até as 20 horas. Levei um tempão pra chegar em casa. E ainda por cima, a bela Michelli queria  passear, queria colo, queria chamego. Até ir dormir foi um tempão.


 


Levantei cedo e fui pra Osasco. A Mudança foi feita. Tudo no lugar. Voltei p’ro escritório. Almocei. Tempo quente. Fico bocejando a cada dois minutos. Já estou com dor no maxilar. E o tempo não passa!


 


Quero ir p’ra casa. Tomar um longo banho. E depois, dormir. Dormir o sono dos justos. Daqueles que trabalham arduamente para ganhar a vida. Nada de mordomias. Nada de alguém fazer as coisas por você. Não sirvo pra ter serventes. Prefiro servir a mim mesma.


 


Em minha frente, janela panorâmica. Vejo os prédios, as nuvens, o tempo lá fora. Mas não vejo a vida passar – vou com ela. Agarrei-a pela cauda e sigo avante. Adiante sempre. Assim que deve ser.


Publicado por Fátima Batista em 22/10/2008 às 18h26
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23/09/2008 13h03
Imposição

 


 


Por vezes, tentam te impor vontades. Cabe a você escolher.


Não gosto de impor nada a ninguém. Na verdade, não gosto nem mesmo de fazer sugestões. Prefiro recebê-las, filtrá-las, escolhê-las.


 


Muitas vezes isso me diferencia dos grupos. Não queira me fazer ir a um restaurante que não gosto somente para ter companhia. Não vou. Prefiro comer sozinha onde a comida me apetece. Não como nada que não me agrade somente para estar em grupo. Então, da mesma forma não tento fazer ninguém ir aonde não queira.


 


Não dou palpites na vida dos outros. E não aceito na minha. Prefiro sentar em um banco vendo o tempo passar, sentindo o vento, observando as pessoas que passam que ter um bate-papo sem fundamento com um grupo de pessoas.  Prefiro sim, os bate-papos amigáveis, entre amigos, ou até mesmo simplesmente colegas, mas não gosto de bobo da corte.


 


Hoje, sai para almoçar com um grupo. No meio do caminho, o bobo da corte resolveu mudar de lugar. Queria comer em mesas na calçada, com este frio, mas onde ele pode ser visto e apreciado. Fui contra, mas numa boa. Expliquei que em lugar aberto, a comida esfria, etc, etc. Ah, então vamos no “Frango”. Prato feito. E a cada mudança, todos concordavam, sem vontade própria. E já iam para o lado. Ok, vou comer no self-service, vulgo kilão, onde escolho o que quero, e como quente. – Ah, mas assim não dá!


- Dá sim, vocês vão para o “Frango” e eu vou para o “Belo”. E assim fiz. Comi o que quis, sossegada, sem ninguém falando em cima do meu prato, apreciando a vida.


Publicado por Fátima Batista em 23/09/2008 às 13h03
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