Textos

O Café - BVIW

Há anos não passava por aquela estação.  Mudara de trabalho, de endereço.  Subira um degrau na vida. Saía todos os dias em saltos altos, roupas bem cortadas,  bem ajustadas,  com as longas madeixas ao vento, anéis nos dedos, perfume francês de leve fragrância à bordo de seu carro novo. Tudo sem sobressaltos.

Até receber o convite para um café na estação. Uma garçonete sem expressão,  mesas vazias e pão de queijo com cara de velho na estufa. Sentou e esperou. Já percebera que ele não se prendia a horários. Quarenta minutos depois ele chegou, já perguntando se tomara o café.  Este é o melhor café de São Paulo, emendou. O café estava morno,  sem gosto e aroma. Mas ela já se acostumara a isso. O importante eram os beijos. E depois, quem sabe, um algo mais.

E assim, o Café da Estação se tornou frequente. Uma vez por semana, enfrentava trânsito pesado para tomar o café que não gostava, em troca beijos. Sentia-se em êxtase.
Até que ele arengou,  criou caso por qualquer coisa, arranjou-lhe defeitos. Deixou-a só. Chorosa, apaixonada,  voltava ao Café,  mas ele não mais apareceu.  Um dia,  com vazio no peito, também desistiu.
Fátima Batista
Enviado por Fátima Batista em 30/07/2025
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